"Os professores
ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito
que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar
conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e ganhar ares de
importante”.
Arthur Schopenhauer (1788 – 1860)
O ser aluno é por natureza um subversivo frente ao status quo do professor. Estar no estado
de estudante é por definição testar os limites daqueles que ousam serem
chamados de metres. A aventura de ser aluno é constituir-se na anarquia de
descobrir-se, e, assim desorientar ao máximo os seus guias-docentes. Por esta
razão, certa feita, num dialogo informal com um colega professor-psicólogo,
este asseverou: “para ser professor tem que ser inteligente, mas não é
inteligente ser professor”. E, ao que parece, os discentes sabem disto, e
então, vivem a provocar a ousadia dos que se colocam na condição de professor.
Neste víeis as mais simples afirmações acadêmicas podem provocar reações
inesperadas nos desatentos docentes – são frases intencionais, oriundas de
corações nada ingênuos, de gente que se fez aluno.
Nada é mais irritante a um professor que ouvir da boca de um aluno
o questionamento: “vale quanto esta atividade?”. Para estes indomesticáveis
discentes tudo na vida acadêmica se resume a notas e provas. Por esta razão,
subsequente a este primeiro questionamento vem o próximo, que está no mesmo
nível de provocação: “este conteúdo vai cair na prova?”. A bem da verdade os
alunos não vão a escola/faculdade para estudar/aprender, a estes o que
interessa são notas e avaliações (escolares ou governamentais). Por esta razão,
o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) roubou a cena na escola e agora o
currículo contempla somente as temáticas exigidas pelo referido exame,
abandonando saberes importantes para a formação intelectual, cidadã e ética dos
profanos alunos – idem para o ENADE (Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes). Tristemente, se ensina para fazer
provas, não mais para adquirir conhecimentos.
Outra expressão que ganha destaque na irritabilidade do professor
é: “a aula vai até que hora?” ou “faz a chamada, professor”. Até chegar no
Ensino Superior o aluno vive em cativeiro, os portões abrem e fecham em
horários específicos, o aluno não pode sassaricar por ai nos corredores e não
podem sair para saciar a interminável sede que os assolam (dá a impressão, pelo
tempo que os alunos levam para retornar a sala, que o bebedor fica no outro
quarteirão). Para estes a educação veio por emboscada. Entretanto, há o altivo
aluno da Educação Superior que desfruta da liberdade seletiva de escolher quanto
tempo quer ficar na sala, e é ai que tais provocações citadas no início do parágrafo
florescem. O que resta ao destemido professor é fazer da sala um picadeiro para
atrair a atenção do aluno ou fazer da sala um campo de guerra com as mais
abusivas ameaças ao aluno que deixar o recinto.
No dia da prova descamba outras interrogações
que faz qualquer professor se irritar, tipo: “a prova é de dupla?” ou “pode
consultar o material?”. Tais questionamentos tentam suavizar as avaliações, pois em qualquer uma das duas colocações
anteriores não serão avaliados os conhecimentos de forma plena. A paixão por
fazer prova em dupla é até entendível no contexto de Goiás, pois afinal por
aqui tudo resume em duplas (sertanejas), então nada mais lógico que estender
tal costume para as provas. Já o “consultar o material” é a mais pura
malandragem acadêmica de colocar igualzinho ao material e assim impedir o
professor de considerar errada a resposta dada – dai, estranhamente o aluno copia
um parágrafo ou outro do material na seção que se refere à questão e pronto,
pouco preocupa em adequar a resposta ao que fora pedido.
O dia da prova ainda revela outra sentença que desestabiliza o
mais ético dos professores, se dá quando se ouve: “vou responder com minhas
palavras, tá professor”. Nestas horas é preciso muita calma, e tentar contra
argumentar com o inteligentíssimo aluno arrazoando que se é você (aluno) quem vai responder, então
só tem como responder com suas
palavras – responder com suas palavras
não inclui colocar qualquer coisa, mas sim contextualizar o que fora
apresentado em sala na linguagem do próprio aluno. Do contrário é decorar e
colocar igualzinho ao material – e isto não é responder, é copiar. Portanto, só
existe uma forma de responder a prova, é com suas palavras.
Irritar o professor é uma arte, apreciada pelos mais atentos seres
acadêmicos que orbitam na atmosfera do saber. Por esta razão merece proeminência
outras frases como: “é para copiar?”, “precisa deixar quantas linhas?”, “este
trabalho é para entregar?”, “é para responder de lápis ou caneta?”, “você só dá
aula ou trabalha em outro lugar?”, “qual o nome da disciplina?”, “qual é mesmo
seu nome, professor?”, “precisa trazer o material (livro, apostila) para a
sala?”.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 21 de Julho de 2014]