segunda-feira, 21 de julho de 2014

Como deixar seu professor irritado


"Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e ganhar ares de importante”.
Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) 

O ser aluno é por natureza um subversivo frente ao status quo do professor. Estar no estado de estudante é por definição testar os limites daqueles que ousam serem chamados de metres. A aventura de ser aluno é constituir-se na anarquia de descobrir-se, e, assim desorientar ao máximo os seus guias-docentes. Por esta razão, certa feita, num dialogo informal com um colega professor-psicólogo, este asseverou: “para ser professor tem que ser inteligente, mas não é inteligente ser professor”. E, ao que parece, os discentes sabem disto, e então, vivem a provocar a ousadia dos que se colocam na condição de professor. Neste víeis as mais simples afirmações acadêmicas podem provocar reações inesperadas nos desatentos docentes – são frases intencionais, oriundas de corações nada ingênuos, de gente que se fez aluno.

Nada é mais irritante a um professor que ouvir da boca de um aluno o questionamento: “vale quanto esta atividade?”. Para estes indomesticáveis discentes tudo na vida acadêmica se resume a notas e provas. Por esta razão, subsequente a este primeiro questionamento vem o próximo, que está no mesmo nível de provocação: “este conteúdo vai cair na prova?”. A bem da verdade os alunos não vão a escola/faculdade para estudar/aprender, a estes o que interessa são notas e avaliações (escolares ou governamentais). Por esta razão, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) roubou a cena na escola e agora o currículo contempla somente as temáticas exigidas pelo referido exame, abandonando saberes importantes para a formação intelectual, cidadã e ética dos profanos alunos – idem para o ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Tristemente, se ensina para fazer provas, não mais para adquirir conhecimentos.

Outra expressão que ganha destaque na irritabilidade do professor é: “a aula vai até que hora?” ou “faz a chamada, professor”. Até chegar no Ensino Superior o aluno vive em cativeiro, os portões abrem e fecham em horários específicos, o aluno não pode sassaricar por ai nos corredores e não podem sair para saciar a interminável sede que os assolam (dá a impressão, pelo tempo que os alunos levam para retornar a sala, que o bebedor fica no outro quarteirão). Para estes a educação veio por emboscada. Entretanto, há o altivo aluno da Educação Superior que desfruta da liberdade seletiva de escolher quanto tempo quer ficar na sala, e é ai que tais provocações citadas no início do parágrafo florescem. O que resta ao destemido professor é fazer da sala um picadeiro para atrair a atenção do aluno ou fazer da sala um campo de guerra com as mais abusivas ameaças ao aluno que deixar o recinto.

No dia da prova descamba outras interrogações que faz qualquer professor se irritar, tipo: “a prova é de dupla?” ou “pode consultar o material?”. Tais questionamentos tentam suavizar as avaliações, pois em qualquer uma das duas colocações anteriores não serão avaliados os conhecimentos de forma plena. A paixão por fazer prova em dupla é até entendível no contexto de Goiás, pois afinal por aqui tudo resume em duplas (sertanejas), então nada mais lógico que estender tal costume para as provas. Já o “consultar o material” é a mais pura malandragem acadêmica de colocar igualzinho ao material e assim impedir o professor de considerar errada a resposta dada – dai, estranhamente o aluno copia um parágrafo ou outro do material na seção que se refere à questão e pronto, pouco preocupa em adequar a resposta ao que fora pedido.

O dia da prova ainda revela outra sentença que desestabiliza o mais ético dos professores, se dá quando se ouve: “vou responder com minhas palavras, tá professor”. Nestas horas é preciso muita calma, e tentar contra argumentar com o inteligentíssimo aluno arrazoando que se é você (aluno) quem vai responder, então só tem como responder com suas palavras – responder com suas palavras não inclui colocar qualquer coisa, mas sim contextualizar o que fora apresentado em sala na linguagem do próprio aluno. Do contrário é decorar e colocar igualzinho ao material – e isto não é responder, é copiar. Portanto, só existe uma forma de responder a prova, é com suas palavras.

Irritar o professor é uma arte, apreciada pelos mais atentos seres acadêmicos que orbitam na atmosfera do saber. Por esta razão merece proeminência outras frases como: “é para copiar?”, “precisa deixar quantas linhas?”, “este trabalho é para entregar?”, “é para responder de lápis ou caneta?”, “você só dá aula ou trabalha em outro lugar?”, “qual o nome da disciplina?”, “qual é mesmo seu nome, professor?”, “precisa trazer o material (livro, apostila) para a sala?”.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 21 de Julho de 2014]