segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Justiça social em plenárias


“...é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade”.
Paulo Freire (1921-1997) 

O tema justiça social vem sendo tratado com especial destaque pela mídia, discussões públicas e também na academia (contexto educacional). A mídia, por causa da rapidez da informação acaba por não ter tempo de pesquisar as bases das informações, repassando fanatismos, superficialidades e sensacionalismos – mazela midiática que é absorvida, acriticamente, pelas massas populacionais que não querem saber, apenas opinar sobre. As discussões públicas se rendem ao grande doutrinador pós-moderno denominado de “televisão”, agente de toda tendência comportamental tupiniquim – sendo assim, não há, de fato, opinião pública, o que há, na verdade, é a opinião dos coronéis do High Definition Television. O que restaria de discurso, supostamente de sanidade, sobre a temática da justiça social é na academia. Supostamente!

Nesta panaceia da defensoria dos minoritários se esconde uma sutil perversão ideológica, principalmente no campo da torre de marfim do saber. Muito se discorre sobre a discriminação dos homossexuais, sobre o racismo interpelado aos negros, sobre a menoridade penal, sobre abusos domésticos contra as mulheres, entre outras temáticas cunhadas na prateleira da justiça social e protegida pelos arames farpados da academia. Entretanto, para que haja justiça social é necessário romper as pretensões individuais que torna, então, a temática refém de interesses pessoais dos seus respectivos interlocutores. Isto se justifica, pois defender causas pessoais não fomenta a justiça social, apenas acirra os ânimos sobre o individualismo autoritativo.

Um professor homossexual defender a união homoafetiva não é, plenamente, lutar por justiça social, é também interesse pessoal. Uma mulher que sofre maus-tratos se tornar símbolo de libertação não tem só haver com justiça social, mas sim, também, com a causa própria. Um aluno negro discursar sobre cotas universitárias não é só uma tentativa de se colocar em condições iguais, mas também uma forma de benefício próprio. Perceba que o problema não está na temática em si, mas em quem a defende – ratifico que todas estas alíneas são sim eixos centrais na questão “justiça social” (por isto o uso exagerado da expressão “também”), porém para que a justiça social deixe de ser um espetáculo acadêmico é preciso mudar os seus precursores/atores.

A justiça social será justa e eficazmente social quando a luta do outro, for a minha luta. Acreditarei no discurso de justiça social quando um heterossexual defender o direito do homossexual; quando um homem se prontificar a proteger uma mulher abusada/maltrada; quando um branco questionar a desigualdade histórica dos negros no sistema escolar; entre outras exemplificações semelhantes. Só haverá justiça quando formos justos, independente de nossas causas pessoais. Só será social quando formos ao encontro da mazela do outro, indiferentemente das nossas próprias desvirtudes. Assim, a justiça social deixa de ser um palanque de pedintes e se torna uma praça de solidariedade.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 26 de Janeiro de 2015]