quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ser medíocre


"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos".
Charles Chaplin (1889-1977) 

A terrível capacidade de se acostumar as mais bizarras situações da vida é indubitavelmente uma característica do ser humano. A facilidade em assimilar o vírus mortal chamado mediocridade tem cooperado substancialmente para corromper os valores. A triste certeza de que muitos nunca vão conseguir ser mais do que agora são, dói no mais profundo das faculdades intelectuais.

A mediocridade não é uma fase da vida, mas sim um estilo de vida. Os adeptos a esta maneira de ser desconhecem as palavras crescimento, evolução, amadurecimento, correção, aperfeiçoamento ou qualquer outra do gênero. Como disse Hamilton Verneck: “quem se rende a tentação do ninho jamais aprende a voar; quem não se aventura pelos mares, verá o casco de seu barco apodrecer em plenos cais; quem não ousar na vida profissional, ficará superado porque não foi capaz de dialogar com as mudanças que o tempo ofereceu”.

A mediocridade é uma desculpa que tem a aparência de humildade. A característica mais notável da luz é a formidável capacidade de desnudar a escuridão. Só pode notar a escuridão que se vive quando se permite que a luz seja superior. A sorte não existe quando se entende que a oportunidade e a capacidade são resultantes de uma busca intencional.

A mediocridade é uma doença, uma doença sem dor e sem sintomas visíveis. Contudo, mata espiritual, emocional, ministerial e profissionalmente um grande número de pessoas. Orison Swett Marden certa feita disse: “o início de um hábito é como um fio invisível, mas a cada vez que o repetimos o ato reforça o fio, acrescenta-lhe outro filamento, até que se torna um enorme cabo, e nos prende de forma irremediável, no pensamento e ação”.

O pior de todos efeitos colaterais da mediocridade é a hilária desculpa de culpar outros pelos fracassos próprios. O tempo não faz as pessoas se tornarem medíocres, apenas revela o que de maneira nenhuma pode esconder, o caráter.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 09 de Outubro de 2004]

terça-feira, 28 de abril de 2015

Encontros e desencontros


“navegar é preciso, viver não é preciso”.
Fernando Pessoa (1888-1935) 

A vida bem que poderia ser definida como um circo. Algumas vezes vesti-se de palhaço dando boas gargalhadas para abafar o tumor da tristeza no coração. Em outras ocasiões toma-se o lugar de mágico tentando surpreender as pessoas com truques incríveis, porém apenas ilusórios. A humanidade parece estar em um gigantesco picadeiro. E, dali, vestindo-se de malabarista usam de toda habilidade para não deixar as peças caírem evitando dessa maneira uma profunda frustração na platéia. Constantemente ocupa-se o lugar de domador de leões aventurando-se na difícil arte de controlar a fúria de outrem.

No palco da existência se contempla o maior circo da história. Existem aqueles que preferem ser como bons dançarinos encenando nas cordas da existência uma elevação da realidade. E finalmente, às vezes, prefere-se ser apenas o apresentador que surge na arena para aquietar o público no início e despedir a multidão no final. No circo da vida os artífices somos nós, e em meio aos encontros e desencontros das vivências iniciam-se as apresentações. Contudo, nem sempre se ouvirá aplausos, algumas vezes o único som que ecoará da platéia será uma vaia recriminatória.

A complexa arte de amimar os espectadores é um perigo apavorante e entusiasmante. Enquanto os protagonistas treinam incansavelmente para não decepcionarem a si mesmos, existem outros que, simplesmente, escolhem ser ridículos espectadores para julgar o esforço alheio. E neste emaranhado de públicos, que muitos se escondem, sozinhos. A aglomeração que se forma embaixo da tenda da vida expõe o individualismo da indiferença. Tristemente, isto reflete o quanto os artistas preferem não se encontrar para não provocarem desencontros.

No palco da vida quem está debaixo dos holofotes somos nós, nus, sem maquiagem ou pavonices. Juntos estamos a apresentar na arena da existência o que realmente somos. Não há necessidade máscaras, fantasias, mágicas ou malabarismos. Só precisamos encenar aquilo que tanto ensaiamos. E neste espetáculo inédito, vivido dia a pós dia, as plateias assistem quem somos. Então, deste ato solene surgirá encontros e desencontros que serão eternizados na memoria daqueles que viveram.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 09 de Março de 2009]