“O maior inimigo da criatividade é o bom
senso...”.
Pablo Picasso (1881-1973)
O rumo para o qual estamos indo é sabido. Todos estão indo pra lá.
Uma odisseia sem muita diversidade, sem muita identidade, sem muita
intencionalidade e sem muita criatividade. Estamos indo, seguindo a maré. Sendo
governados pela sonoridade da mídia que teatraliza e uniformiza a todos, nos
tornando reféns de nossas próprias histórias. Há até uns discursos destoantes,
mas, às vezes, parece que até isto é intencionalmente previsível. Tentam, convictamente,
mostrar que o diferente é disforme, esquizofrênico, maléfico, alucinógeno, e
coisas do gênero. Querem que acreditemos que ser distinto é uma esquisitice
intolerável frente aos fracassados padrões desta sociedade do sucesso visível.
O principal sustentáculo de toda esta carência criativa é a
culpabilidade, do outro, claro. Há de se culpar alguma coisa, alguém, algum
passado, e quem sabe até o preconizar a culpa do futuro. Culpam a falta de
recursos financeiros, e assim, se sujeitam a não conseguirem chegar para além
da medíocre linha do sucesso empresarial. Culpam o governo pelas faltas
sociais, e assim, encantam a si mesmos com enfadonhos discursos sobre a
intangibilidade humanitária. Culpam os opressores do passado, e assim,
encontram a grande desculpa para se acomodar no deleite do fracasso
justificável. Culpam algumas pessoas por qualquer coisa, e assim, se escondem
no revigorante vale das deliciosas acusações.
É preciso ir além. Até na arte de culpar é preciso que haja mais
criatividade, pois estes discursos já caducaram. Não convencem mais. Apesar de
ainda serem muito funcionais entre os romeiros
da igualdade – por isto, repetir o que já foi dito é confortante, cumprimentar
o outro com um pergunta que nunca tem resposta é amigável, descrever o óbvio
com eloquência é admirável e escrever muito sobre o que todos sabem é
enriquecedor. É preciso reinventar o que estamos fazendo! É preciso dizer
verdades com um pouco mais de mentiras
e, quem sabe, conseguir mentir com um
pouco mais de verdade (verdades aqui representam nossas convicções mais
concretas, e mentiras aqui representam nossas convictas incertezas, que
geralmente as ridicularizamos).
A criatividade permite gangorrear, perder, arriscar, não saber,
contemplar, chorar, enlutar, indagar, silenciar, desdomesticar, desadestrar,
desmecanizar, despir... enfim, as pessoas criativas sabem que tristeza não
significa estar triste, nem alegria significa estar alegre. Sabem que estar
vivo não significa estar respirando, nem morrer significa estar enterrado. Pessoas
criativas rompem o cativeiro das categorias. Rompem o estereótipo. Superam os
estigmas. Por isto, precisamos de mais criatividade. Precisamos de cantores
mais desafinados, de escritores mais analfabetos, de artistas mais
despreparados, de professores com mais dúvidas, de carteiros sem endereços, de
dançarinos sem música, de palhaços sem maquiagens, de repórteres sem notícias.
Precisamos de pessoas desrotularizadas. Para que haja criatividade precisamos
de liberdade. Liberdade de fazer feio, de não ser aceito, de contradizer.
Liberdade de criar...
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 16 de Junho de 2015]
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