terça-feira, 28 de julho de 2015

Educação adestrada


“É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade”.
Immanuel Kant (1724-1804)

O período de escolarização poderia ser provocativo, inquietante e desconcertante. Gerar pessoas que questionassem o ciclo normal da existência. Favorecer o florescer de gente inconformada com a macha atual. A escola até poderia ser um terreno fértil para o germinar de percepções diferente acerca das normoses existentes. A escola poderia... não fosse sua real intenção de formatação para adequação da aceitação social, como propõem Emile Durkheim; Não fosse a escola uma estrutura de reprodução das intenções da classe dominante, como propõem Antônio Gramsci; e não fosse a escola um produtor de exercito de reserva para atender os donos do capital, como propõem Karl Marx. A escola poderia... não fosse a educação um germe adestrado como se está.

A educação precisa ser liberta, liberta de nós mesmos, de nossos ideais corruptos e tendenciosos. A educação precisa se libertar dos grilhões de nossa humanização. Contudo, é preciso reconhecer que a educação jamais conseguirá se ver livre de nossa integração humana, alias, educar é um processo de humanização por si só. Entretanto, quem sabe, um dia conseguiremos desfrutar de uma educação mais irreverente, capaz de desrespeitar os ditames ortodoxais ai expostos. Discordar não para se opor, mas sim para desvelar, criticar, desnudar, duvidar e questionar. A educação precisa ser uma enxada que desbrava nossas ignorâncias e remexe nossas convicções, preparando a boa terra para um novo plantio.

A educação está adestrada, e o que denuncia tal atrocidade é a perda de três pilares: 1) Interatividade – enquanto a educação se manter como um monólogo de professores, então, não haverá espaço para aprendizagem. O professor é um importante agente, contudo, é preciso mais integração com os alunos para que a educação se torne provocativa na realidade social de todos. 2) Continuidade – enquanto a educação continuar desconexa de um rumo para além das disciplinas anuais ou semestrais, então, o conhecimento terá um curto prazo de perecividade. A educação precisa superar a escolarização. 3) Intencionalidade – enquanto a educação estiver rendida a sistemas avaliativos, então, o proposito será igualmente, apenas, avaliativo e correspondente ao período de escolarização. É necessário que o saber seja mais valorizado que a obtenção de notas.

A educação está adestrada, pois é conveniente que ela esteja assim. Os professores não gostam de alunos que pensam, pois sendo assim estes os fazem estudar/preparar aula; Os alunos não querem professores que pensam, pois estes se tornam muito exigentes em sala; A direção não quer alunos e professores pensantes, pois neste caso, ambos produzem muitos problemas acadêmicos para serem resolvidos; A sociedade não quer uma escola pensante, pois deste modo é mais fácil (e mensurável) ditar o que é sucesso e fracasso. Por tudo isto, caso não haja um desarranjo no cenário atual, em vão discursaremos na planaria da vida.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 28 de Julho de 2015]