quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Da contradição em ser contraditório


“Quero dizer o que eu penso e sinto hoje, com a condição de que talvez amanhã eu vá contradizer tudo”.
Ralph Waldo Emerson (1803-1882) 

Da contradição em se ter liberdade de contradizer, é o que nos torna extremamente coerentes. Por isto a lógica moderna é ser pós-moderno para tentar parecer não viver nesta turba de conflitos inexplicáveis, que tanto nos explicam. Sendo assim, o sucesso pode ser facilmente delimitado, marcando uma territorialidade com giz de cera, demonstrando com riscos ao chão os limites do fracasso. Portanto, é blasfêmia qualquer forma de categorização, sendo por si só uma bizarrice contraditória, uma tentativa infame de ordenar os organismos rebeldes.

A contradição permite desvelar os temores daqueles que insistem em mudar para nunca terem que mudar. Preferem gritar em seus próprios ouvidos as diretrizes de um caminho já percorrido, que de tão desgastado ficam a pisar onde outros já pisaram, mesmo que com o glamour de originalidade aplausível. Gente em efeito manada, que corre sem saber por que, nem pra que, simplesmente corre em direção ao nada. Que contraditoriamente, lá onde fica o nada, quem sabe, talvez, podem-se descobrir os significantes de tantas normoses, e enfim, entender tudo.

Contra o dizer pode não ser tão contradizente como se mostra, pode ser apenas uma releitura distante, uma recostura às avessas, ou até quem sabe um óculos inadequado para uma realidade adequada. Afinal, somos feitos de desmedidas exigências que ecoam no cósmico da visibilidade. Sendo assim, tudo pode parecer sem sentido, e ai sim ganhar sentido. Sentido não de rumo, não de direção, mas sim sentido de sentido – tipo estas coisas que não se explicam, mas que todos sempre entendem. Entendeu?

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 29 de Dezembro de 2015]