“Amo o público, mas não o admiro. Como indivíduos, sim. Mas, como
multidão, não passa de um monstro sem cabeça”.
Charles Chaplin (1889-1997)
A sensação de rapidez do mundo moderno faz-nos
tornar obsoletos antes do tempo. A certeza de estarmos ultrapassados para esta
geração não é apenas uma sensação esporádica ou especulativa, é uma afirmativa incontestável.
Entretanto, permanecemos úteis a um sistema pugilista de competitividades em
que se faz necessário ter perdedores para reafirmar a frágil grandeza dos atuais
campeões. Tudo isto é parte intencional de estruturas simbólicas fortemente enrijecidas,
que como considera Pierre Bourdieu, estratégias de jogo com resultados viciados,
previsíveis e categorizantes. Neste sentido, é preciso treinar os perdedores para
lutar para perder e assim reafirmar padrões midiáticos de hegemonias caritativas
de sucesso e enriquecimento.
As fôrmas mudaram de tamanho inesperadamente e fez
com que muitos não mais coubessem nos padrões modeladores de outrora. O mercado
formal com sua seguridade não mais permanece sustentável numa sociedade docilmente
indurável, ou como propõem Zygmunt Bauman, numa sociedade liquida. Os museus estáticos
com obras de artes que recompõem a historicidade perdem lugar para a fugacidade
de trinta segundos televisivos de uma propaganda qualquer. Não mais toleramos o
preto no branco, precisamos de muitas cores, tantas que se torne impossível contar,
tudo para nos perdermos numa multidão de informações ahistóricas que não conseguem formar, mas apenas aprisionar nossas
percepções da vida coletiva. É assim que se adestra uma geração para viver para
o trabalho.
O discurso uníssono comprova nossa incapacidade crítica
de encontra respostas fora da cartilha dos senhores do feudo moderno. Por estes tempos
tudo parece tão concordável e absolutista, como diria Milton Santos, estes são tempos
de globalitarismos, de discurso único
que fomenta uma consciência universal. Parece que tudo está posto: aquecimento
global, terrorismo islâmico, globalização, supremacia estadunidense, corrupção
tupiniquim, eleições eletrônicas, jornalismo imparcial e empresas com cases de sucesso. Por este viés as obviedades
se dão como ditaduras sofistas em um mundo carente de convicções e cosmovisões.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 27 de Agosto de 2016]