sábado, 27 de agosto de 2016

Diálogos intermitentes


“Amo o público, mas não o admiro. Como indivíduos, sim. Mas, como multidão, não passa de um monstro sem cabeça”.
Charles Chaplin (1889-1997)

A sensação de rapidez do mundo moderno faz-nos tornar obsoletos antes do tempo. A certeza de estarmos ultrapassados para esta geração não é apenas uma sensação esporádica ou especulativa, é uma afirmativa incontestável. Entretanto, permanecemos úteis a um sistema pugilista de competitividades em que se faz necessário ter perdedores para reafirmar a frágil grandeza dos atuais campeões. Tudo isto é parte intencional de estruturas simbólicas fortemente enrijecidas, que como considera Pierre Bourdieu, estratégias de jogo com resultados viciados, previsíveis e categorizantes. Neste sentido, é preciso treinar os perdedores para lutar para perder e assim reafirmar padrões midiáticos de hegemonias caritativas de sucesso e enriquecimento.

As fôrmas mudaram de tamanho inesperadamente e fez com que muitos não mais coubessem nos padrões modeladores de outrora. O mercado formal com sua seguridade não mais permanece sustentável numa sociedade docilmente indurável, ou como propõem Zygmunt Bauman, numa sociedade liquida. Os museus estáticos com obras de artes que recompõem a historicidade perdem lugar para a fugacidade de trinta segundos televisivos de uma propaganda qualquer. Não mais toleramos o preto no branco, precisamos de muitas cores, tantas que se torne impossível contar, tudo para nos perdermos numa multidão de informações ahistóricas que não conseguem formar, mas apenas aprisionar nossas percepções da vida coletiva. É assim que se adestra uma geração para viver para o trabalho.

O discurso uníssono comprova nossa incapacidade crítica de encontra respostas fora da cartilha dos senhores do feudo moderno. Por estes tempos tudo parece tão concordável e absolutista, como diria Milton Santos, estes são tempos de globalitarismos, de discurso único que fomenta uma consciência universal. Parece que tudo está posto: aquecimento global, terrorismo islâmico, globalização, supremacia estadunidense, corrupção tupiniquim, eleições eletrônicas, jornalismo imparcial e empresas com cases de sucesso. Por este viés as obviedades se dão como ditaduras sofistas em um mundo carente de convicções e cosmovisões.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 27 de Agosto de 2016]